Com olhos vermelhos por causa da fumaça, peles castigadas pelo sol em demasia e corpos arqueados pelos repetitivos movimentos de se baixar e levantar que a lida do marisco as obriga, cerca de vinte e cinco mulheres do distrito de Povoação de São Lourenço, em Goiana, são expostas a um duro regime de trabalho, chegando à carga horária de mais de 12 horas por dia, sem direito a nenhuma folga por semana.
Por volta das cinco horas da manhã as marisqueiras - como são chamadas - já se encontram em suas canoas navegando nas águas do rio Megaó até chegarem à praia de Canoé, em Carne de Vaca, ou em Croa do Siri, praia próxima a Acaú - PB, onde catam os mariscos como quem busca, pouco a pouco, a sobrevivência de suas famílias. Após este processo, as mulheres voltam para suas canoas e remam de volta à Povoação de São Lourenço, onde fervem em fogueiras improvisadas os frutos do mar, e fazem todo o minucioso trabalho de extrair a carne do crustáceo.
As condições de trabalho são péssimas, a fumaça faz com que os olhos ardam e lacrimejem insuportavelmente para os que não são acostumados com o árduo cotidiano dessas guerreiras. Para a senhora Maria Iracema, de 49 anos, todas as marisqueiras são acostumadas com a incessante nuvem de fumaça. “Isso é pouca coisa para nós. Eu mesma aprendi essa profissão com a minha mãe e ela aprendeu com minha avó. Sei bem que a hora que mais sofremos é quando vamos nos deitar com os corpos exaustos, aí sim, os olhos começam a arder. Eu que já tenho problema na vista, fico noites sem dormir por conta disso”, desabafa.
Dona Maria Iracema trabalha na lida com o marisco há mais de vinte anos. Ela mora com sua filha, 14 anos, que também lhe ajuda na atividade. A vida de dona Iracema sempre foi muito sofrida, por isso só estudou até a 2ª série. “O meu maior sonho era aprender a ler e escrever. Admiro muito as pessoas que são estudadas, infelizmente não tive a oportunidade de concluir meus estudos, por conta do trabalho”, afirma.
O que motiva as mulheres da região a trabalhar, desde cedo, catando, debulhando e vendendo mariscos é a falta de outras atividades que possam gerar renda para a subsistência diária. A jovem G. K., 17 anos, mãe de um menino de 1, é um bom exemplo disso. “Comecei a catar mariscos porque não tem trabalho, então essa é nossa única alternativa para sustentar nossa casa. Ninguém vem aqui para nos ajudar, só aparecem em época de campanha política e depois somem”, acrescenta a marisqueira.
Essas mulheres ganham
De acordo com Rita de Cássia, 21 anos, uma das alternativas para melhorar a qualidade de vida das marisqueiras seria a criação de uma cooperativa para facilitar a comercialização da carne do crustáceo e, com isso, agregar valores ao produto.
A representante da Coordenadoria da Mulher de Goiana, Sandra Rodrigues, declarou que desconhecia, até então, a existência deste grupo na Povoação de São Lourenço, muito embora a coordenadoria esteja ligada à Secretaria de Políticas Sociais do município, a qual também deve prestar serviços em toda a área de Goiana, inclusive, nos distritos. A coordenadora se comprometeu em se reunir com as marisqueiras para saber quais as suas maiores necessidades. “Iremos até lá para saber o que é preciso para melhorar a situação dessas mulheres. Só a partir daí podemos fazer um planejamento ou ações imediatas para o auxílio delas, seja uma associação ou uma cooperativa”.
Um comentário:
Muito bem cuidado o assunto, gostei muito da matéria!
Parabéns!
Um abraço.
Da amiga, Suely S Araújo.
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